Cinema: Crítica – Pearl (2022)
Foi de forma surpreendente que o muito antecipado regresso de Ti West ao grande ecrã no ano passado, com X, estabeleceu-o de forma permanente como um dos cineastas mais interessantes do cinema independente. Experiências anteriores, enquanto variadas, desde um faux-documentário com um culto americano em The Sacrament, à sua versão de um western, com Terra Violenta, foi no terror que West definiu a sua carreira de vez. Numa altura em que o cinema de género procura constantemente a sua nova sensação, X levou tudo à frente de forma inesperada, mas muito orgulhosa. Entretanto, o plano secreto de West funcionou. Estrear um slasher que fora aclamado por fãs e críticos, abrindo as portas para a sua trilogia em volta de Mia Goth e as personagens que interpreta. Em Pearl, vemos as origens de uma actriz que quer conquistar o mundo.
O ano é 1918, em plena época de Influenza, e Pearl (Goth) é uma jovem mulher que está desesperada para estar no estrelado, e fará de tudo para o atingir. No entanto, está presa pela sua mãe (Tandi Wright) e as responsabilidades que tem perante o seu pai (Matthew Sunderland), vítima da virose, que o deixou incapacitado. Com uma tendência assassina, Pearl não deixa ninguém se meter no caminho dos seus sonhos, custe o que custar.
Se o assalto sensorial de X introduziu-nos a um universo que se ri na cara dos costumes tradicionais, a chamada cultura Americana, prevalecente nos estados mais para o interior, onde agricultores dedicados faziam os seus dias a cultivar a terra e tratar do gado, Pearl oferece-nos uma visão mais empática desse mundo, numa altura de crise. A obra, gravada em plena pandemia, aproveitou-se para se situar em 1918 para justificar as várias restrições de segurança impostas, numa jogada de génio, contribuindo para muitas das gargalhadas do filme. Adicional a isto, é o facto de dos filmes poderem ser vistos em qualquer ordem, influenciando ao mínimo novos fãs, e dar referências suficientes para fãs já estabelecidos olharem para as coisas doutra forma.
Por outro lado, a participação de Goth no argumento, algo que West já tinha referido que só faria sentido se assim fosse, é notável, com uma performance verdadeiramente a valer, no mínimo, uma nomeação ao Óscar de melhor actriz. Goth que se tem mostrado cada vez relevante na cultura-pop e no cinema de género, demonstra-se aqui na sua derradeira forma, e não será esquecida tão facilmente.
Enquanto que Pearl segue uma abordagem narrativa mais discreta q.b., dedicando-se mais à construção da personagem e re-estabelecendo o universo neste espaço temporal, este acaba também por ser menos assustador; e apesar de ter os meus momentos slasher, sabe exactamente com manter o espectador cativo com a brilhância que é Mia Goth como Pearl.
Assim, Pearl é mais um passo em frente para definir Ti West e Mia Goth como duas das personalidades do cinema de género contemporâneo, ficando a faltar a respectiva conclusão em 2024 com MaXXXine, fechando assim um dos ciclos mais impactantes desta década.
Nota Final: 8/10
Pearl foi visto no âmbito da cobertura da 20ª edição do IndieLisboa.
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.
Ha alguma previsao para o lançamento nas nossas salas?
Olá Tiago! Infelizmente não. A NOS Audiovisuais estreou o X no ano passado, e na altura a cópia Europeia não teve direito ao teaser do Pearl depois dos créditos. Entretanto, ficou em limbo durante meses perceber se a distribuidora iria realmente estrear o filme, mas tendo em conta que a exibição no IndieLisboa foi feita com legendas à parte, diria que quanto muito, eventualmente, poderá chegar aos VOD das nossas operadoras, ou em plataformas de streaming. Vamos ver como tratam MaXXXine no próximo ano.