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Princípio, Meio e Fim – Criativo, Interessante e Frágil

 

“Acreditem no que vos digo, há beleza no erro

Todas as histórias têm um princípio, meio e fim.”

 

São estas as primeiras palavras de cada episódio da recente série escrita e desenvolvida por Bruno Nogueira, Nuno Markl, Salvador Martinha e Filipe Melo.

O programa passou na SIC durante os meses de Abril e Maio e pode ser assistida neste momento na nova plataforma da SIC, a OPTO.

A série começa sempre com a mesma premissa e é constituída por duas partes

Na primeira parte temos Bruno Nogueira, Nuno Markl, Salvador Martinha e Filipe Melo numa sala com um computador onde têm de escrever um guião em duas horas com algumas distrações incluídas.

A segunda parte consiste na interpretação do guião. Interpretado por Albano Jerónimo, Nuno Lopes, Rita Cabaço, Jéssica Athayde, o próprio Bruno Nogueira e diversos convidados.

Entre as duas partes temos ainda uma pequena montagem, estilo making of, explicando como ambas as partes foram produzidas.

O programa parece uma desconstrução das fases do processo criativo. Revelando como é escrever, produzir e assistir um conteúdo televisivo. Acrescentando a isso todos os desafios ou erros que se possam encontrar.

Na primeira parte acompanhamos a equipa de escrita a tentar escrever um guião enquanto surgem acontecimentos aleatórios à sua volta, de forma a distraí-los e atrapalhar o seu trabalho.

A título de exemplo, poderemos ver a equipa de escrita acompanhada por um mimo, toda a equipa de produção a dançar a Macarena, ou um burro a passear no estúdio.

Estas distrações colocadas pela produção parecem servir como metáforas exageradas dos desafios que os escritores costumam ter diariamente.

Outras vezes são eles próprios que complicam e se desafiam uns aos outros, um exemplo recorrente é um deles escrever o guião de olhos fechados.

Na interpretação do guião os atores fazem o que podem com o que lhes foi entregue. Todos os erros que a equipa de escrita coloca no papel são transmitidos pelos atores. Isto tanto leva a situações hilariantes como outras que não resultam tão bem, mas tudo faz parte da experiência.

É possível termos cenas com os atores a interpretar texto que foi escrito de olhos vendados, a ficarem parados durante alguns segundos porque não houve tempo de acabar um parágrafo ou a gritarem porque o guião estava com essa parte em letras maiúsculas.

De um ponto de vista narrativo a experiência caótica continua, numa cena o elenco está a jantar e na cena seguinte um deles está a cantar karaoke japonês na sala, sem qualquer seguimento lógico entre as duas.

O elenco de uma forma geral faz um bom trabalho, no entanto, há que destacar as representações de Albano Jerónimo e Nuno Lopes. Existem também convidados especiais que roubam completamente as cenas em que entram.

Entre as partes temos um breve making of  de todo o processo do programa.

A comédia serve de foco central em toda a série, todavia, houve espaço para explorar outros géneros como suspense, drama, terror e ação.

Há que salientar a imaginação da realizadora Cristiana Miranda e a sua equipa na gravação de certas cenas.

Uma vez que são abordados diferentes temas em cada episódio, todo o processo de produção foi um enorme desafio com resultados muitas vezes hilariantes.

O programa Princípio, meio e fim serviu como uma lufada de ar fresco tendo em conta que decorreu no período de confinamento e creio que a maioria do publico precisava de algo diferente do que estava a passar na televisão.

Destaca-se pela sua criatividade e interesse em mostrar ao publico todo o processo da sua produção, mantendo-se honesto desde de que é escrito até ser interpretado.

Esta transparência também torna o programa frágil, no sentido de que nem tudo o que é escrito resulta na produção e interpretação do guião. Existem ideias que claramente precisavam de ser mais bem trabalhadas.

Não é um programa completamente original. Quem acompanha de perto os trabalhos do Bruno sabe que esta ideia de mostrar o processo de escrita foi também realizada na série Odisseia, que passou na RTP.

Estamos a assistir à produção de um programa feito entre colegas e amigos. O que leva a parecer que mais do que tentar entreter o público toda a equipa procurou divertir-se.

Creio que funcionou com um laboratório de comédia e como espectador tive mais vontade de estar envolvido na produção do programa do que assistir ao mesmo.

O escritor americano E. B. White tem uma expressão que creio ser adequada ao programa:

“Explicar uma piada é como dissecar um sapo. Acabamos por compreender melhor o sistema mas o sapo morre no processo.”

É um programa alvo de críticas e opiniões muito díspares mas a apreciação do mesmo varia consoante aquilo que o espectador procura nele e valoriza como entretenimento. Alguns espectadores vão gostar de apreciar todas as partes do programa e outros nem por isso.

Não me parece que seja um programa para todo o tipo de publico no sentido que nem toda a gente tem interesse em acompanhar todo o processo do mesmo.

Desta forma acho que é um programa destinado a um nicho especifico de espectadores. É uma boa série caso seja uma pessoa interessada no acompanhamento e construção das diferentes fases de um programa televisivo.

Mesmo sendo um programa complexo existe beleza na produção do mesmo e espero que hajam mais temporadas com outros erros e temas interessantes a serem explorados.

Na minha opinião merece um 7,5 em 10.

Se o leitor procura outros conteúdos ligados ao Bruno Nogueira dentro deste contexto de humor mais experimental pode seguir também a série Uma Nêspera no Cu disponível no Youtube.

Caso procure uma narrativa mais sólida recomendo as séries Sara e Odisseia. Se estiver mais focado apenas em humor satírico ou de sketches veja o Último a Sair ou os Contemporâneos. Todas as séries mencionadas encontram-se na RTP PLAY.

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