Análise jogos: Not For Broadcast
“Not For Broadcast” é um FMV com comédia de excelência e jogabilidade fraca, que nos mergulha numa distopia desconcertante por ser tão familiar.
Desenvolvido pela NotGames e lançado pela tinyBuild para PC, em janeiro de 2022, Not For Broadcast é um videojogo FMV (Full Motion Video) em que vestimos a pele de um realizador de um canal britânico de notícias em direto, durante uma época de transformação política cujo desfecho é definido pelo jogador.
Estamos no Reino Unido, durante os anos 80. Com a ameaça do totalitarismo no horizonte, o realizador de serviço despede-se, decide abandonar o país e deixa-nos a responsabilidade de coordenar as notícias em direto na véspera de umas eleições que prometem alterar o rumo da história… mas o jogador também tem mão firme no leme!
À medida que os acontecimentos na sociedade vão decorrendo, o canal de notícias em que trabalhamos, National Nightly News, faz a cobertura de diferentes aspetos e perspetivas dos mesmos, e cabe-nos a nós, jogadores, decidir o que mostrar, influenciando desta forma o futuro da nação.
Devemos dar mais destaque aos interlocutores do partido totalitário que chegou ao poder ou aos lutadores pela liberdade? Mas a quem, especificamente? Ajudamos a nossa família ou o nosso país? No final, a história terá um dos 14 finais possíveis que lhe dermos e caberá à consciência de cada um julgar os resultados.
É precisamente na tomada de decisões que assenta a jogabilidade de Not For Broadcast. O jogador depara-se com decisões morais a serem tomadas num ápice de modo a definir o enredo. Para tal, há que controlar as câmaras a transmitir em direto, censurar (ou não) palavrões e discursos destoantes, decidir quais as notícias a apresentar e os anúncios a passar enquanto se tenta manter o público interessado e a transmissão ao vivo ao evitar problemas técnicos. Tudo isto depende de uma conjugação entre coordenação e rápida tomada de decisões.
Embora não haja grande espaço para analisar gráficos e arte, visto tratar-se de um FMV interpretado por atores em filmagens ao vivo, é precisamente aqui, na interpretação dos atores, aliada a um guião excecional, que se revela o verdadeiro ponto forte deste jogo. Not For Broadcast conta com um elenco incrivelmente talentoso que interpreta de modo brilhante um guião comicodramático capaz de nos levar às lágrimas – de tanto rir como pelo carinho que ganhamos aos personagens que vão ficando pelo caminho… mas nada de spoilers!
Pelo lado menos positivo, temos aquela que será talvez a crítica mais comum aos FMV: a jogabilidade. Tratar de todos estes aspetos da realização começa por ser divertido, mas resume-se a clicar aqui e arrastar ali sem grande desafio, acabando por se tornar algo repetitivo e chegando até a incomodar em momentos que o que se quer é seguir a história, ouvir os momentos cómicos geniais, e ver o desempenho fenomenal dos atores.
Não se pode também deixar de mencionar que o jogo é “pesadinho” para as horas de conteúdo que nos proporciona, exigindo uns módicos 50 GB e picos de espaço livre para a instalação.
Not For Broadcast vale, acima de tudo, pela forma como está escrito e interpretado, não tanto pela forma como se joga. Quem procura o típico estímulo de um videojogo à coordenação motora, pensamento lógico, competência estratégica ou qualquer outro, não encontrará em Not For Broadcast grande desafio. Contudo, os fãs de enredos interessantes (existe até a opção de desativar a jogabilidade), têm aqui um título excelente que lhes promete encher as medidas, especialmente no que toca às tiradas cómicas nonsense com clara inspiração em Monty Python. Vale mesmo a pena ver todos os sketches que o jogo nos apresenta.
Para terminar, fica uma dica indispensável: vejam os anúncios!!!
Classificação: 6,5/10
Gamer inveterado que não dispensa uma boa série e nunca diz ‘não’ a uma sessão de cinema… Com pipocas, se faz favor!