Cinema: Crítica – Alien Romulus
Depois dos sucessivos deslizes da franquia no virar do milénio, pouco ou nada se esperava de mais uma nova entrada no universo dos Xenomorphs. Só que para a surpresa de quase todos (eu incluído) Alien Romulus entrega o inesperado…
Alien é mais uma daquelas sagas legado da cultura pop, que tem o seu lugar merecido na história da sétima arte, mas, tal como dita o padrão na indústria, as sucessivas investidas foram-lhe progressivamente tirando o brilho e mística.
A tal ponto que as duas últimas longas-metragens foram muito mais um ensaio filosófico em torno da criação da vida, do que propriamente aquilo que os incontornáveis Alien (1979) e Aliens (1986) nos maravilharam. Agora a chancela da 20th Century Studios, distribuidora habitual, pertencente à gigante Disney, algo que muitos temiam como mais um mau sinal a juntar à mistura.
Talvez tenha sido para melhor, pois embora Ridley Scott assuma uma das cadeiras dos produtores, esta longa-metragem é assinada por Fede Álvarez, que tem vindo a ganhar espaço no género do horror desde a última década. Digo isto, pois considero esta escolha, na realização, um dos notáveis pontos fortes, mas já lá iremos.
Se antes a narrativa andava para trás, ao expandir o lore acerca dos primórdios do surgimento dos Xenomorphs, agora avança num terreno familiar, algures entre os primeiros dois filmes lançados. Álvarez é claramente um fã da franquia, mostrando inúmeras vezes em Alien Romulus que fez o trabalho de casa.
Não querendo estragar surpresas num dos dois pontos que amarram esta entrada às demais, posso apenas dizer que não é um filme inconsequente, e que efetivamente ver/rever o original é sobretudo importante, e, mesmo que em menor grau, se tiverem tempo e paciência adicionem Alien Covenant (2017) também.
Neste filme acompanhamos um grupo de jovem adultos protagonizados por Rain (Cailee Spaeny) e pelo seu meio-irmão androide sintético Andy (David Jonsson) e mais outros quatro integrantes rebeldes. Antes da experiência de sobrevivência mortal em si que conhecemos começar, o guião presenteia-nos com uma construção de mundo adequado e desejada, sem nunca desviar o foco do essencial, como acontecia.
Embora na prática represente pouco mais de dez por cento do filme, devo dizer que o primeiro contacto, nas minas do planeta onde está a Weyland-Yutani Corporation, dá-nos uma excelente impressão da potencialidade da cinematografia nas mãos de Galo Olivares. Uma ambientação que é digna de um retro-futuro distópico ala Blade Runner (1982), por vezes até de forma bastante literal na sua inspiração.
É um elemento que queria ter visto mais explorado, quanto à sua critica social subjacente, pois este grande conglomerado empresarial é uma presença de fundo assídua na saga Alien, e quem na verdade puxa os fios para que as personagens acabem sempre por virar carne para os Xenomorphs.
É uma inserção positiva que fica para saciar os fãs, mas que é praticamente inconsequente na big picture de Alien Romulus. O que não é inconsequente, é a peça que faz mexer o filme: ao que o grupo de personagens acaba por tentar saquear uma alegada estação espacial abandonada, a Renaissance, na tentativa de arranjar uma forma de escapar das amarras corporativas da Weyland-Yutani, rumo a um destino livre.
Como era sabido as coisas não correm como esperado, e o nosso núcleo duro acaba preso na estação espacial, tendo, claro, companhia alienígena a bordo. E todo o grosso modo da ação é aí que ocorre, um lugar comum para se desenvolver a fórmula Alien. Uma das coisas que fica bastante explícito, é que as homenagens não só são visuais ou pontuais, porque todo o guião é construído em torno de regressar à boa forma que conhecemos de Alien original, é quase que uma espécie de re-imaginação moderna do mesmo filme: novas caras, mesma ameaça.
Não consigo não desassociar à relação quase simbiótica entre SW: VII The Force Awakens (2015) e SW: IV A New Hope (1977), sendo este último um caso de sucesso (crítica e comercial) do seu tempo, Álvarez então decide repetir a dose, com resolução (espera-se) idêntica.
Independentemente dessa relação de recriação e pastiche com a obra-prima mãe, Alien Romulus tem elementos que o distingue, em particular tudo o que diz respeito à ligação de Rain e Andy, que são a alma do filme, tornando-os personagens com uma importância para com o espectador que nenhum outro personagem na saga teve, a respeito de qual vai ser o seu desfecho.
Pois o guião faz com que nos importemos realmente com a sua jornada e que diferentemente dos restantes quatro que, a seu jeito, representam os habituais tropos de personagens-tipo que já vimos em centenas de filmes do género. Embora todo o elenco jovem esteja, ainda assim, bem no seu papel e no que as suas personagens lhes pedem de entrega, ficando o destaque para Kay (Isabela Merced).
As suas duas horas de duração deixam-nos colados ao ecrã: cada corte, cada decisão de câmara foram pensados cuidadosamente, é um filme que tem o seu tempo para respirar, ao equilibrar o fan service orgânico na narrativa em simultâneo com os elementos novos, que ora são invertidos, ora trazem a franquia Alien para temas e lugares não explorados. Quanto ao(s) Xenomorph(s) em si, há um trabalho exímio por parte da produção em não fugir muito àquilo que vimos até então, desde o seu visual, à violência e movimentos até à forma como acompanhamos o seu nascimento grotesco à sua forma final.
Visceral é um adjetivo que encaixa perfeitamente aqui, ao nível de manter alguns efeitos estéticos e práticos clássicos, pois Fede Álvarez utiliza da sua bagagem acumulada no remake de Evil Dead (2013) para nos entregar as cenas mais medonhas e bárbaras que há muito tempo não se via em Alien. É um prato cheio para os fãs mais reticentes, há gore de blockbuster em abundância e mais ainda, pudor para o mostrar, ainda que a parte mais assustadora seja reservada para o último ato, mas cujos detalhes, se revelados, estragariam parte da experiência.
Há além do equilíbrio entre antigo e novo, também um balanceamento entre a parte ação furtiva e caça gato-rato, com a evidência, o facto de se tratar de um filme de ficção científica, e todas as nuances que envolvem da física à engenharia, quanto à estação espacial onde as personagens se encontram enclausuradas.
Alien Romulus é, em síntese, um recomeçar em grande da franquia Alien sob a forma de lufada de ar fresco, uma que se prende na alternância entre a estrita re-imaginação moderna do original, ao mesmo tempo que cria raízes para ideias futuras a desenvolver.
Daí que, tal como disse, Fede Álvarez tenha feito o que se achava impossível, capturando perfeitamente o ADN da saga, algo que imediatamente fez Alien Romulus saltar para o pódio dos melhores da saga, juntamente com as duas obras-primas de Ridley Scott e James Cameron. Mais do que obrigatório para os fãs, é um must-see para todos os fãs implacáveis de ação/terror, sendo para mim, a inigualável surpresa da época cinematográfica de 2024, até ao momento.
Nota: 9/10
Alguém que vê de tudo um pouco, do que se faz no mundo da Sétima Arte, um generalista por natureza. Mas que dispensa um musical ou comédia
Efeitos práticos? O que é isso? Bem, isso é um false friend que na verdade quer dizer efeitos reais.
Estamos cada vez mais a dizer e escrever coisas que não fazem sentido em Português de Portugal. Efeitos práticos são feitos que dão jeito, ou são fáceis de usar.
Fui ver ontem esse filme ,adormeci na primeira parte e perdi tempo na segunda parte , quem fez este filme devia ser proibido fazer mais filmes ,acabaram com o ALIEN