Análise BD: A Norte de Sul Nenhum
Para os portugueses, o Algarve continua a significar Verão, praia e férias. Mas o extremo Sul de Portugal não é só isso. Há muito mais para contar no Al-Gharb. Leiam aqui a análise do livro A Norte de Sul Nenhum.
Há alguns anos atrás, o mês de Agosto representava uma migração turística dos portugueses para o sul de Portugal. Para muitos o Algarve pouco mais significava que algumas das melhores praias do país. Mas ao longo dos anos muita coisa mudou. Descobriu-se que afinal toda a costa portuguesa e até mesmo o interior eram destinos de férias, e entretanto o Algarve foi descoberto por ainda mais estrangeiros. Com cada vez mais necessidade de mão-de-obra, os imigrantes de todo o mundo começaram a chegar em grande números e alguns com incríveis histórias de vida. Influenciado por este caldo de culturas, tão típico de Portugal e do Algarve em particular, João de Mascarenhas apresenta-nos A Norte de Sul Nenhum.
Neste livro o autor mistura realidade com ficção, reportagem com novela, memória com atualidade, de uma forma muito feliz e subtil. E é natural que assim seja, já que fala de vários dos seus temas preferidos. Largamente influenciado pela vivência da terra de onde o seu pai é natural, as muitas imagens de Olhão que surgem na obra são autênticos bilhetes-postais que no levam de visita àquela cidade algarvia, sabiamente entrelaçados com uma história de vários amores: o amor por uma mulher, o amor pela música e o amor pela liberdade.
João Mascarenhas parece procurar atualmente que os seus livros sejam algo mais do que puro divertimento. Ele é um apaixonado pelo fabrico artesanal de instrumentos musicais, e conseguiu neste livro juntar duas das suas paixões: a BD e a música. E junta a estas uma história de memórias. As memórias de um amor perdido, a memória de uma guerra que arrasa um país e provoca refugiados, a memória da Guerra do Ultramar e dos nossos exilados, e a memória das lendas que povoam o Algarve. Conseguiu também trazer para a BD o poeta Fernando Cabrita, também ele ligado à música e um dos grandes divulgadores da poesia no Sul de Portugal, bem como um divulgador da cultura portuguesa em geral e algarvia em particular por vários países do mundo.
Em vinhetas pontuadas pelos arabescos, como o nome indica tão do gosto árabe, misturam-se os versos de Fernando Cabrita, as imagens de Mascarenhas, e os sons que se advinham de dois instrumentos de origens diversas, mas afinal tão próximos, numa feliz união que nos faz ler de seguida toda a obra, até ao lamento final que o poeta deixa, mas que o desenhador afasta com o voo das gaivotas.
O livro tem uma dinâmica que joga muito com o desenho e o texto, criando uma leitura que por vezes se alonga, ora com poemas, ora com vinhetas, mas que mantém um nível contínuo.
Livro em capa dura com boa encadernação, com páginas em papel baço de qualidade e com impressão tricromática em preto, branco e vários tons de verde. Preço justo para o tipo de livro.
Tempo de leitura:
- A Norte de Sul Nenhum – aproximadamente 30 minutos
Num claro testemunho de vários temas que são caros aos autores, João Mascarenhas e Fernando Cabrita conseguem conciliar os mesmos de uma forma harmoniosa. Um livro que nos alerta para novas situações que, afinal, são a repetição do passado. Um livro que é uma memória do futuro. Um futuro que precisa de ser mais solidário. Por esse motivo, os direitos de autor do livro revertem para uma associação de apoio aos refugiados.
A NORTE DE SUL NENHUM
Fernando Cabrita e João Mascarenhas
Editora: A Seita
Livro em capa dura com 56 páginas a preto, branco e verde nas dimensões de 20,5 x 27 cm
PVP: 13,90 €
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Se não está a ler ou não tem um livro na mão… By Jove, algo se passa!!!