Análise BD: A universidade das cabras
A universidade das Cabras, de Christian Lax, é um dos mais recentes lançamentos da Arte de Autor. Será que é leitura que valha a pena?
Christian Lax é um autor francês de 75 anos que conta já com um vasto reportório de obras de banda desenhada para editoras francesas como a Glénat, Dupuis ou Futuropolis.
E é desta última que a Arte de Autor foi buscar esta obra A universidade das Cabras. Desengane-se quem achar que é sobre o debate do melhor GOAT no futebol, CR7 ou Messi Não tem nada que ver, o termo de “A universidade das cabras” refere-se ao ensino nómada, ou itinerante, por zonas de terceiro mundo ou onde o ensino é inexistente.
Este livro e esta história, coloca-nos em dois espaços temporais distintos e três espaços geográficos diferentes.
Primeiro em 1833, temos um professor nómada de seu nome Fortuné Chabert a percorrer os Alpes do Sul na Nova Zelândia para ensinar crianças de aldeias a ler e escrever. Depois, o mesmo personagem aparece-nos nos estados Unidos da América no Arizona fazendo a mesma prática a civilização indígena Hopi.
Segundo em 2018 conhecemos outro personagem, o Sanjar que atravessa as montanhas do Afeganistão a fazer também de sua pratica, fazer chegar a educação e ensinamentos a crianças e outros de pequenas aldeias sem acesso á mesma. A sinopse revela-nos que o que une as duas personagens é a vocação do ensino, mas fica o mistério de outro elo entre eles.
Fica claro, portanto que o ostracismo perante a educação por parte destes locais, estrategicamente e temporalmente muito bem selecionados pelo autor trazem toda uma bagagem histórica.
De forma audaz Lax empenha-se a mostrar neste conto a bravura, resiliência, coragem, vocação e altruísmo de quem se dedica a ensinar crianças e adultos em sítios onde essa prática não é bem-recebida e acarreta sérios riscos para quem a executa.
Quem achar esta premissa interessante o suficiente, tem aqui um conto muito bem dirigido e organizado para nos fazer refletir e pensar nesta temática que acarreta muita profundidade quer a nível psicológico, histórico, sociopolítico, filosófico, económico e acima de tudo, real e atual.
A nível visual, Lax apresenta um desenho bastante interessante, é bastante bonito e leve, oferece-nos nas suas vinhetas, diferentes paisagens consoante os diferentes cenários onde coloca os seus personagens. A recriação de atmosferas frias aquando a neve das montanhas apresenta um branco imaculado no caso dos Alpes, já nas atmosferas quentes e arenosas temos castanhos, laranjas e amarelos atraentes no Arizona, ou azuis urbanos delicados e contrastantes no Afeganistão.
O desenho é bastante próprio e aparenta ter uma mistura de estilos, se é mais cuidadoso nos cenários, ao mesmo tempo é mais imperfeito e menos coerente nas expressões humanas, mas que me parece ser propositado do meu ponto de vista. Pessoalmente, o desenho de Lax não me seduziu, mas misteriosamente, assenta muito bem nesta banda desenhada.
É já habitual a qualidade editorial da Arte de Autor, uma encadernação e impressão imaculada com papel brilhante, uma capa dura com textura aveludada e apontamentos de luxo, contendo ainda um posfácio de Pascal Ory, um historiador francês especialista em história cultural e politica.
Aconselho os indecisos, a folhearem o livro, saborear e beber os desenhos de Lax e refletir se a temática é interessante o suficiente para adquirir a obra, pois é uma aposta fora da caixa da Arte de autor que abrange o seu catálogo para livros bem diversificados. Parabéns por isso
E boas leituras.