Análise BD: Dylan Dog – Trevas Profundas
Dylan Dog (DD) é a criação de maior impacto do escritor italiano Tiziano Sclavi e ser introduzido nas leituras de banda desenhada desta personagem é simplesmente mergulhar num universo de inquietação, já que as suas histórias, retidas com o lado mais melancólico da investigação, combinam a habitual cunhagem dos clássicos contos de detetives com os fenómenos mais aterradores do paranormal.
Dylan Dog – Trevas Profundas
Apesar de tudo, mesmo que Dylon Dog seja descrito como «o detetive do pesadelo», as suas BD’s de teor adulto e de carácter refletivo seduzem e encantam. Através de Trevas Profundas, podemos contar também com a estreia de Dario Argento, mestre do terror no cinema, responsável pela escrita desta história única, que conta ainda com a colaboração do ilustrador Corrado Roi e o argumentista Stefano Piani.
Forçado a uma paragem inesperada no trânsito de Londres, Dylan Dog conduzia como que sem rumo até este incidente levá-lo à inauguração de uma exposição fotográfica dedicada ao BDSM. Obra do destino ou do acaso, a visão de uma mulher na galeria que serviu na realidade de modelo para as fotografias, enreda o detetive num mistério após ter sonhado com a mesma, ficando obcecado com uma presença que aparentemente não teria sido possível.
Para todos os efeitos, DD descobre que a mulher com a qual sonha está na realidade desaparecida e é forçado a concluir que está a comunicar com o fantasma de uma pessoa que é vítima de um crime que pretende que o investigador descubra e exponha.
DD não se envolve apenas com o paradoxal mundo do erotismo por detrás das práticas do BDSM mas igualmente com os segredos sujos que envolvem vários membros da classe aristocrática inglesa e as suas normas corretivas cruéis e censuráveis, deparando-se com uma história de abuso, frieza e vingança.
O que esperar?
O inesperado e o insólito, envoltos em eventos de contornos trágicos e dramáticos, desdobra-se numa história que mantém elevados contornos românticos, já que Dylan Dog também se sente atraído por uma mulher que já não vive neste mundo. Eis a visão de um romance impossível, próprio das aventuras de cunho melancólico do detetive do pesadelo.
Publicado por A Seita num álbum de capa dura de cerca de 100 páginas, Dylan Dog: Trevas Profundas é uma obra a preto e branco coerente com o teor sombrio de uma história que nos prende, digna de fazer justiça aos melhores contos góticos dos mestres literários como Edgar Allan Poe, ainda que explorando uma vertente de claro impacto, diferente mas não totalmente exclusiva, onde o prazer se confunde com a dor da mesma forma que a dor rima e se interpreta como uma fórmula do amor.
A arte
Os seus desenhos detalhados e realistas mantêm um equilíbrio próprio com as cenas de ação credíveis e os rostos expressivos das personagens, que bem podem ser baseados em pessoais reais. Contando com o trabalho de tradução de Mário João Marques e o grafismo e legendagem de Hugo Jesus, há que reconhecer que o valor da sua envolvência com uma obra notável, sombria em tantos aspetos, mas verdadeiramente profunda.
Fascinado por História da Arte e pelo Universo Criativo da Ficção, é um entusiasta consumidor de Banda Desenhada além de leitor assíduo de obras de Ficção Científica e de Terror, com particular predileção pelo Oculto e o Sobrenatural
Adoro Dylan Dog, em Portugal a maioria das histórias são excelente, em particular: “Até que a morte vos separe” e “O imenso adeus”.
Espero que um dia publiquem outras que gosto muito e considero das melhores como: “#66: Partita con la morte”, “#19 – Memorie dall’invisibil” e “#88 – Oltre la Morte”. Até lá fica só o desejo de ter mais Dylan Dog em Portugal.