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Análise BD: O Árabe do Futuro 6

As autobiografias nas novelas gráficas são uma moda, ou representam uma crise de falta de imaginação? E o Árabe do Futuro, é um manifesto ou apenas um objeto de faturação que ainda vai continuar? Leiam aqui a análise ao livro O Árabe do Futuro 6.

Já vos aconteceu verem um episódio de uma série de TV, gostarem, e depois ao verem a série toda terem uma desilusão? Pois foi o que me sucedeu ao ler o livro em análise.

Apesar de já ter ouvido falar muito da série de livros O Árabe do Futuro, nunca tinha calhado dedicar-me à leitura de algum dos volumes editados. O pedido de análise deste volume, obrigou-me a ler duma assentada, em cinco dias, os anteriores volumes. E talvez tenha sido esse o problema. É que ler numa semana o que demorou oito anos a publicar, não tem o mesmo efeito. E talvez por isso uma certa desilusão. Se o começo foi bastante interessante, com a continuação da leitura, reparamos que as situações se vão repetindo, tornando por vezes a leitura enfadonha.

Mas não há dúvida que Riad Sattouf sabe contar uma história e prender a atenção dos leitores.

O autor utiliza um tipo de desenho de fácil leitura, uma criação com ritmo e que consegue conjugar o divertido com o amargo duma forma inteligente. E também joga com as cores sólidas, sendo cada país representado por uma cor diferente. Mas, na verdade, esta saga parece o storyboard de uma série de televisão ou de uma telenovela. Sattouf está ligado ao audiovisual e não me admirava muito que viesse a seguir a moda e transformasse O Árabe do Futuro numa série em streaming.

E afinal quem é O Árabe do Futuro? Riad Sattouf ou o seu pai? Aparentemente será o pai, pois a série na verdade retrata toda a vida do pai e termina com a sua morte. Mas será mesmo ele? Ou afinal o autor ainda não contou tudo?

Sattouf parece estar a ajustar contas consigo próprio, como se os livros servissem de expiação da sua juventude. Na verdade, os seus problemas são os comuns a todos aqueles que vivem entre dois mundos diferentes, tentando aproveitar o melhor de cada lado. Este último volume conta 17 anos da sua vida, quase tantos quantos os que contou nos cinco volumes anteriores (16), o que não deixa de ser estranho. Pelos vistos a sua vida adulta tem muito menos para contar do que a sua infância e adolescência. Talvez por isso o autor limita-se a contar a sua vivência entre a sociedade islâmica e a sociedade ocidental, sem fazer qualquer juízo de valor entre as duas. E se nos anteriores volumes encontrávamos por vezes sequências de vinhetas ou de páginas chatas e repetitivas, neste volume é tudo muito mais rápido.

A caracterização dos vários personagens é muito bem-feita e são todos facilmente reconhecíveis ao longo da leitura. Mas não podemos esquecer que se trata de uma autobiografia, e Riad apenas conta aquilo que quer. O seu pai é uma personagem muito trabalhada, talvez até mais do que o próprio autor. Já a mãe é uma personagem de que sabemos muito pouco, e que parece viver apenas de emoções. Os avós maternos são personagens bem mais elaboradas e interventivas e que várias vezes mostram ser muito importantes para Riad

Quanto ao irmão do meio, Yahya, é apenas uma figura decorativa, uma personagem vazia neste relacionamento tão complexo, o que é estranho. De forma igualmente inesperada, a namorada de Riad desaparece subitamente após ter ido para a cama com ele, sem mais qualquer desenvolvimento, bem como o seu ramo familiar da Síria, que segue o mesmo caminho.

Quanto ao outro irmão, Fadi, naturalmente não sabemos nada dele. Foi raptado e apesar de estar omnipresente em vários volumes, apenas surge neste sexto volume, duma forma muito intrusiva nas últimas páginas. Não por acaso na contracapa do livro, por cima de um monte de ruínas da guerra da Síria, surge a legenda: “Este livro conta a verdadeira história do desaparecimento do Árabe do Futuro, lançando as bases para a próxima saga que irá surgir dos escombros da sua família.  

Riad Sattouf é um criador reconhecido tanto na BD como no cinema. Em ambas as artes já ganhou vários prémios em reconhecimento do seu trabalho, como sejam dois prémios em Angoulême e o César de melhor primeiro filme. Mas ao longo do tempo tem recebido várias reações, que vão do brilhante ao fraco, em ambas as Artes, numa inconstância que parece refletir as questões pessoais que nos apresentou ao longo desta narrativa e o torna afinal tão humano.  

Sabiamente, o autor soube manter o filão e vai criar uma nova saga. Assim, será lançado no próximo dia 8 de Outubro em França, pela sua própria editora chamada Les Livres du Futur, o primeiro volume duma trilogia que é uma série complementar, com o título de: “Eu, Fadi – O Irmão Roubado”, em que é o seu irmão Fadi o narrador. Preparem as carteiras…

A dinâmica de leitura é maioritariamente boa, com algumas quebras em páginas com demasiado texto ou temas recorrentes, mas o nível de interesse provoca uma leitura rápida e interessada. Na legendagem, apesar do tamanho da fonte ser pequeno, o tipo escolhido permite uma fácil leitura. Foi o próprio autor que escolheu o tamanho do livro, para ficar ao lado dos normais livros de literatura e não junto dos álbuns de BD.

Livro em capa mole mas bem encadernado, com páginas em papel baço e com impressão em quadricromia: preto, branco, azul e vermelho. Preço normal para o tipo de livro.

Tempo de leitura:

  • O Árabe do Futuro 6 – aproximadamente 2:00 horas

Este é o fecho de uma série muito falada e com sucesso. Traduzida em mais de vinte línguas, já vendeu mais de três milhões de exemplares pelo mundo. Mas, curiosamente, ainda não foi traduzida para árabe. Afinal, trata-se da visão pessoal de alguém que vive entre dois mundos quase opostos. Outras visões bem diferentes existirão.

O Árabe do Futuro 6 - Ser Jovem no Médio Oriente (1994-2011)

Riad Sattouf
Editora: Teorema

Livro em capa mole com 176 páginas a quatro cores nas dimensões de 17 x 24 cm
PVP: 22,90 €

 

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