Análise BD: Mussolini (Grandes Figuras da História)
Da coleção “Grandes Figuras da História”, chega-nos agora “Mussolini”, sobre o fundador do Partido Nacional Fascista italiano.
Sinopse:
“No final da Primeira Guerra Mundial, Benito Mussolini encabeça um movimento revolucionário e violento, o fascismo, que congrega os desiludidos com a vitória mutilada de Itália. Em 1922, Mussolini dirige o movimento e impõe uma revolução fascista que dura até à Segunda Guerra Mundial, refundando inteiramente o sistema político e económico.
O seu grande desígnio é criar uma nova Itália, organizada e poderosa, que tem à cabeça um chefe infalível, o Duce (o Guia). Empenha-se desde muito cedo em fazer de Roma o centro do poder e a nova cidade ideal, conforme aos ideais do fascismo. Literalmente reconstruída por um Mussolini que transforma o aspeto da cidade eterna à luz de um fascismo conquistador, Roma é como que testemunha privilegiada desse período.”
Com um guião de Luca Blengino e David Goy
e a ajuda da historiadora Catherine Brice, a história da imposição do fascismo por Benito Mussolini é bem apresentada. O belo desenho semi-realista de Andrea Meloni, proveniente da escola Franco-Belga, traz a este álbum de grandes dimensões o casamento perfeito. Com grandes panorâmicas em páginas duplas embelezando os mais belos monumentos de Roma, a disposição das vinhetas torna-se um pouco confusa com tanto aparato visual.
A balonagem é competente, mas por vezes aparece sobreposta sobre vinhetas diferentes, o que não é justificável tendo em conta o tamanho enorme do livro. Parece-me que seria perfeitamente evitável. As cores são bem ajustadas ao desenho, que é irrepreensível na sua qualidade de detalhes, nas cidades, monumentos, paisagens e pessoas.
Aconselho este tipo de livro a quem já tem um gostinho especial por estas figuras históricas e quer embelezar a sua biblioteca. Digo isto porque, para realmente perceber o fascismo e quem foi Mussolini, terá obrigatoriamente que estudar de antemão a temática, senão ficará muito confuso com a panóplia de nomes, temas e conceitos que esta banda desenhada atira para o leitor.
De uma forma resumida,
Benito Mussolini estabeleceu em Itália uma ditadura totalitária desde 1925, tornando-se chefe do governo, Duce do fascismo e fundador do império. Criou e sustentou a patente militar suprema de Primeiro Marechal do Império, junto com o Rei Vítor Emanuel III da Itália, tendo o controle supremo das forças armadas italianas. Mussolini permaneceu no poder até 1943 e foi, até à sua morte, o líder da República Social Italiana.
Como em qualquer regime totalitário, Mussolini começou por trazer para si todo o poder político e de decisão. Remodelou fortemente os monumentos consagrados da nação, como o mausoléu de Augusto, o teatro de Marcelo, o Capitólio, o Panteão e os monumentos cristãos, destruindo outras estruturas obsoletas. O Grande Conselho do Fascismo torna-se o órgão supremo e soberano do Estado. Todas as associações de pessoas ficam sujeitas a controle policial, como a PIDE fazia em Portugal no governo totalitário de Salazar; aqui, a polícia secreta fascista criada é a OVRA.
Os únicos sindicatos reconhecidos são os fascistas e as greves são proibidas. Os dissidentes e antifascistas são presos ou exilados. A imprensa passa a estar sob controle do Estado, é censurada e expurgada do mais ínfimo conteúdo antinacionalista ou de críticas ao governo. No ensino, os professores são obrigados a inscrever-se no partido e a utilizar o manual escolar único fascista. Uma ideologia de construção e edificação futurista, mas com génese na grandiosidade dos imperadores romanos e das suas obras magnânimas e maioritariamente utópicas.
Sem esquecer a expansão do território nacional através da guerra e ocupação forçada. Declaradamente, após a conquista da Etiópia, o apogeu de Mussolini chega a eclipsar o seu Rei e o papa, igualando-se aos antigos imperadores, onde o seu êxito é de facto imensurável. As obras públicas são verdadeiramente grandiosas. No entanto, com a emergência da realidade nazi alemã, tudo toma um rumo bem diferente e já conhecido por todos. Depois das guerras em África e em Espanha, a Inglaterra e a França aliam-se contra os italianos, os cofres ficam vazios, há falta de carvão e aço e só a Alemanha faz comércio com a Itália.
Nazis, pagãos, antissemitas, convencidos de serem de uma raça superior, os alemães e o seu Führer Adolf Hitler sobrepõem-se ao Duce italiano, traçando o destino destrutivo, aquando o fim da Segunda Guerra Mundial e a vigorosa vitória dos aliados, quando finalmente os Estados Unidos da América decidem tomar medidas.
Podemos encontrar um dossier de quatro páginas no final deste livro, com uma bibliografia do ditador e um pequeno making of desta banda desenhada.
Boa edição, encadernação e impressão com capa cartonada por parte da editora Gradiva, correspondendo na sua qualidade a estas obras de grande interesse.