Análise BD: Tempo – Em Busca da Felicidade Perdida
Os autores Jorge Pinto, Evandro Renan e Talita Nozomi, trazem-nos um conto sobre o tempo, as memórias, a felicidade, as tristezas, a sina, a solidão e as emoções.
Ao ler este livro
Ao ler este livro tive a sensação de estar a assistir a uma peça de teatro. As pausas colocam o nosso cérebro a magicar e a voz poderosa do narrador ecoa fortemente nas ambiguidades das suas palavras que se tornam frases e que por sua vez se tornam histórias.
Tempo e memória
Tempo e memória tornam-se os personagens escondidos por detrás das pessoas que aqui aparecem e que assumimos serem os personagens principais. Sendo que o tempo se divide entre o passado, o presente e o futuro, as perguntas que surgem são variadas. Pode o tempo passado tornar-se o presente?
A memória pode fazer que um minuto do passado possa tornar-se um minuto do presente se pararmos para o reviver?
Que poder extraordinário tem então a memória. “Não poder recordar, não sermos capazes de rever, de reviver, é deixar de ser.”
O personagem principal
O personagem principal desta história é um homem com uma idade a rondar os 50 anos e vive numa casa rural há 7 anos com um casal de idosos que o acolheram. Este homem é refém do seu passado, alcoólico reabilitado e eternamente transtornado por um acidente de viação que trouxe grandes traumas. Foi abandonado pela sua filha e não conhece a sua neta.
Tenta enfrentar um presente que o desgasta e um passado que o assombra, buscando a felicidade num futuro onde o seu ônus consiste em actualizar um calendário feito na terra, com as suas próprias mãos a mexer na relva e no solo, provando que o presente pode ter sucesso compensando o tempo por ele investido neste trabalho. No entanto, ele próprio não sabe se aquilo é fútil ou não, pois o que deseja mesmo é reencontrar a sua filha.
O seu ponto de luz é a mulher idosa que lhe dá alento e o vê como um filho. Esta personagem é outra que procura reviver as alegrias do passado ao namorar constantemente um álbum de fotografias onde vê os melhores momentos da sua vida. O início do namoro e o casamento com o seu marido com quem ainda vive e o nascimento e vivências dos seus dois filhos que no presente estão muito ausentes da vida dos pais. Esta senhora transmite força e alento para o homem não desistir de se encontrar, de não se deixar cair em tentações e de tentar encontrar a sua filha.
Melancolia e tristeza
Não vou dizer o que sucede a partir daqui, mas a melancolia e a tristeza subliminar que paira sobre esta história torna-a forte mas também amarga.
Os desenhos
Os desenhos são relativamente de um traço muito simples e singelo, até um pouco tosco, mas que transmite perfeitamente no tempo e no espaço o que quer representar. As páginas de arte abstrata que virtualizam o narrador transportam-nos para o tal cenário e decor do teatro que referi, como se por fantoches ou sons minimalistas nos transmitissem todo o seu sofrimento e significado. As cores dão um ar digital que contrasta com tudo isto, mas que de uma forma caricata resultam.
O título
Com efeito, o título de Tempo, em busca da felicidade perdida e a ampulheta que ilustra a capa não poderia ser mais adequado e perspicaz. Se virarmos a ampulheta ela recomeça, mas o resultado é o mesmo. Se a areia é a felicidade, ao cair do último grão, ela continuará perdida. Ou haverá esperança nesta caixa de pandora?
Conclusão
Livro muito interessante e reflexivo.
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Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.