Análise BD: O Mundo de Sofia Vols. 1 e 2

Depois das mais recentes eleições na Europa, muito se falou que as pessoas, e em especial os jovens, não sabem e não pensam na consequência das suas ações. Talvez a leitura destes dois livros leve as pessoas a pensar e a colocar muitas questões… Leiam aqui a análise dos dois volumes da novela gráfica O Mundo de Sofia.

Eis mais uma novela gráfica que resulta da adaptação de um livro de divulgação filosófica com o mesmo nome, que já vai na 36ª edição em Portugal e que foi publicado originalmente na Noruega em 1991. A obra original é uma adaptação da História da Filosofia Ocidental de Bertrand Russel e o seu autor, Jostein Gaarder, é um escritor norueguês conhecido por esta obra, já traduzida para 60 idiomas, e pelos seus contos e livros infantis. O mesmo deu apoio nesta adaptação para novela gráfica.

Por isso, apesar da base da história ser semelhante, toda a forma é diferente e temos novos livros para ler. Para além da adaptação a BD, também os temas mais atuais (ambiente, redes sociais, inclusão feminina) são várias vezes mencionados, numa clara procura de suscitar o interesse e facilitar a leitura dos mais jovens. Temos de nos lembrar que já passaram mais de 30 anos desde a edição original.

Claro que, como livro de divulgação, os conceitos e as ideias são apresentados duma forma muito simplificada e orientada por perspetivas por vezes controversas. Mas o principal objetivo é criar o interesse da Filosofia Ocidental nos leitores, seja através do texto ou das imagens. Alguns dos conceitos até ficam a ganhar por serem apresentados de forma gráfica, pois tornam-se mais fáceis de compreender.

No final do primeiro volume, o guião dá uma volta, que faz com que o segundo volume tenha um desenvolvimento diferente do primeiro, numa clara vantagem de não repetição da fórmula. Neste segundo volume, os conceitos são naturalmente um pouco mais complexos pois estamos perante filósofos mais recentes, que vão de Descartes até aos nossos dias, sem que contudo a leitura se torne aborrecida.

O desenho é do estilo cartoon, com cores bem contrastantes, para serem visualmente agradáveis e apelativos e não desviarem a atenção do tema. Em ambos os livros há interessantes soluções gráficas, em que até as letras e as legendas se tornam intervenientes da história. Há um bom compromisso entre o argumento e a parte gráfica.

Ambos os volumes chegaram a Portugal apenas 1 mês depois de publicados em França, numa clara aposta da editora em ajudar os jovens a questionarem correta e objetivamente o Mundo. Fazem atualmente parte do Plano Nacional de Leitura.

Em relação ao livro original, para além da atualização dos temas, algumas personagens foram modificadas e outras desapareceram, em nome da facilidade do desenvolvimento e leitura de ambos os volumes. Vicente Zabus é ator, dramaturgo e argumentista, e em conjunto com o próprio Jostein Gaarder, conseguiram uma boa adaptação da obra original para novela gráfica. Claro que o grafismo de Nicoby e as cores de Philippe Ory ajudam muito a sua fácil leitura. O interesse e êxito do livro original fez com que na altura também tenham sido feitos um filme e um videojogo do mesmo.

A dinâmica de leitura é muito boa e acessível, conseguindo manter um nível de interesse constante no desenrolar de ambos os livros.

Livro em capa dura com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa qualidade e com boa impressão. Penso que a aposta em papel brilhante ou acetinado teria melhorado a edição. Preço normal para o tipo de livro.

Tempo de leitura:

O Mundo de Sofia – Volume 1 – aproximadamente 1 hora e 35 minutos
O Mundo de Sofia – Volume 2 – aproximadamente 1 hora e 40 minutos

No mundo atual, com excesso de informação ao dispor de todos com um simples toque num ecrã, estes são livros que pretendem que os leitores em vez de simplesmente beberem a informação que lhes é fornecida, se questionem e desenvolvam a curiosidade. Com a abundância de notícias falsas e imagens criadas por Inteligência Artificial, nada melhor do que ajudar os jovens a colocar questões existenciais e recordar a célebre frase de Sócrates: “Sábio é aquele que sabe que não sabe”.