BD: Batwoman – e os autores com a mania que são estrelas? (Parte 4)
A julgar pela torrente de opiniões negativas e pelas juras de nunca mais ler determinado livro, ou qualquer outro livro dessa editora, onde determinado autor foi “expulso” pela maléfica mão do editor, a minha opinião é de facto (no mínimo) exótica.[fbshare]
N.E.: Esta é a terceira parte da crónica Batwoman – e os autores com a mania que são estrelas? Para leres a primeira parte, clica aqui. E para leres as seguintes basta seguir o link no final dos textos.
Por isso, vou tentar explicar-me e começo por apontar o seguinte:
- Vivemos num mundo em que a informação corre à velocidade da fibra óptica.
- Quem anda no mundo da banda desenhada há alguns anos, sabe muito bem como a máquina funciona.
- As personagem não são dos escritores/artistas, são das editoras que adquiriram os direitos das mesmas e contrataram equipas criativas para contar histórias com essas mesmas personagens. Personagens essas, que habitualmente fazem parte de um universo com muitas outras personagens e em que o editor tem que coordenar diferentes histórias/eventos entre vários títulos relacionados –
- por exemplo a Bat-family? acho que o conceito é auto explicatório.
- Se um escritor/artista quer ter liberdade criativa completa sobre a sua obra tem alternativas. Existem editoras que dão essa liberdade, por exemplo a Image.
O “problema” é que na Marvel/DC vendem mais de 20 mil exemplares, numa editora independente já não é bem assim. Apesar de serem cada vez mais os autores a optar por trabalhos Created Owned e a ter algum sucesso, esse sucesso não é garantido e não é fácil começar uma série independente.
É necessário trabalhar vários meses sem receber um tostão (enquanto não houverem vendas) e não é liquido que esse título tenha sucesso.
Dou alguns exemplos:
- Peter Panzerfaust (que é uma série excepcional) em julho vendeu 9,951 unidades e em Fevereiro vendeu 4,456 unidades
- The Massive, escrita pelo Brian Wood (Conan the Barbarian, Star Wars, Mara, X-Men, volume 3, DMZ) vendeu em julho 8,983 unidades
Mas deixo-vos com uma lista mais extensa de algumas vendas de Julho:
East of West #4 – 43,228 (+9.6%) – Hickman / Dragotta
Lazarus #2 – 27,143 (-43.5%) – Greg Rucka / Michael Lark
Ten Grand #3 – 21,858 (-25.5%) J. Michael Straczynski / Ben Templesmith
Ghosted #1 – 17,782 – Joshua Williamson / Goran Sudzuka,
Sex #5 – 15,996 (-10.8%) – Joe Casey / Piotr Kowalski
Invincible #104 – 14,733 (-2.2%) – Robert Kirkman / By: Ryan Ottley
X-O Manowar #15 – 13,997 (+5.5%) – Robert Venditti / Lee Garbett
Chew #35 – 12,818 (-0.1%) – John Layman / By: Rob Guillory
Conan the Barbarian #18 – 12,331 (-0.5%) – Brian Wood / Davide Gianfelice
E ainda:
Saga #1– 37,641
Saga #13 – 55,372 – 22º Livro mais vendido do mês – que é um claro caso de sucesso.
- Entre parêntesis está a diferença de revistas vendidas relativamente ao mês anterior e à frente estão os nomes das equipas criativas.
Fonte: Comicsbeat.com
Voltando um pouco atrás.
Numa grande editora, a equipa criativa tem de conviver com o seu editor e com vários outros escritores que (como dizem os americanos) brincam na mesma Sand Box – isto é, é necessário coordenar muito bem os acontecimentos dos diferentes livros (do mesmo universo) para não existir uma grande incongruência entre eles. Também é certo que as dores de cabeça de um equipa criativa podem aumentar (dependendo dos egos de cada um), mas o dinheiro ao fim do mês também.
O marketing e a publicidade são por conta da editora, a personagem já é conhecida e por isso, já tem uma audiência natural que pelo menos vai dar uma oportunidade à equipa criativa. No entanto, é vital que todos os elementos das diferentes equipas criativas conheçam bem o conceito de Compromisso.
Por outro lado, numa editora independente não existem limites criativos e se porventura, essa revista for comprada por uma estação televisiva ou estúdio de cinema (caso do Walking Dead e de Red), os lucros para a equipa criativa são enormes.
No entanto, para começar uma série numa editora independente são necessários meses de preparação. É fundamental ter uma ideia que distinga aquele livro das dezenas de outros livros que se vendem em lojas especializadas. É vital investir tempo e dinheiro a promover esse livro e a editora não faz tudo de boa vontade, ela cobra para publicar as revistas.
O processo criativo que se pode arrastar por meses ou anos não é pago, logo é necessário que a equipa criativa já tenha alguma bagagem ou uma fonte fixa de rendimento que lhe permita estar alguns meses sem vencimento, isto é especialmente relevante para o desenhador que, como se sabe, só consegue desenhar uma revista por mês.
Outro aspecto relevante, é que numa editora independente, a figura do editor pode não existir e isso reflete-se muitas vezes na qualidade de muitas séries em que os autores tomam decisões que objetivamente prejudicam o rumo da sua história. Aqui quero dar como exemplo The Walking Dead: quem segue desde o início não pode deixar de sentir que Negan é uma reencarnação do Governador e que a história se arrasta há cerca de 2 anos “sem atar nem desatar”.
- Portanto, nem tudo é um mar de rosas.
Nelson Vidal
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Dário é um fã de cultura pop em geral mas de banda desenhada e cinema em particular. Orgulha-se de não se ter rendido (ainda) às redes sociais.