Cinema: Crítica – Reality
Reality é um filme que, inicialmente, estranha-se, mas depois deixa o espectador a pensar.
Vamos já colocar algo assente: inicialmente, apenas vi este filme por conta de Sydney Sweeney. Estava curioso com o que faria neste papel, depois de ter visto tanto filme medíocre onde a atriz era considerada a estrela maior desses filmes. A verdade é que, acabei por ficar pelo filme e com um maior respeito por Sweeney, já que se porta lindamente e poderia ser considerado um papel que define a sua carreira.
Antes de mais, queria dar mais um pouco de contexto ao leitor, este filme é baseado no interrogatório real da denunciante Reality Winner, condenada por divulgar documentos classificados da NSA à imprensa. O filme assenta fortemente nesse mesmo conceito: quase todas as falas são retiradas da transcrição oficial do interrogatório do FBI. Esta decisão resulta numa representação autêntica da vigilância moderna e da fragilidade da verdade.
Algo que me impressionou, foi o facto de a estrutura do filme ser minimalista. Quase totalmente passado no ambiente banal da casa de Winner, onde dois agentes do FBI (interpretados por Josh Hamilton e Marchánt Davis) a interrogam, o filme desenvolve-se mais como um drama tenso do que como um thriller político. O contraste entre a conversa casual dos agentes e de Winner e a ameaça subjacente à situação cria uma atmosfera estranhamente surreal. O diálogo é comum, mas há uma sensação de inevitabilidade quanto ao destino de Winner, mesmo enquanto ela tenta navegar pela conversa com cautela.
Voltando um pouco a Sydney Sweeney, a sua interpretação subtil traz complexidade a uma personagem que poderia ter sido reduzida a um simples símbolo de uma causa política. A atuação é contida, mas acaba por ser completamente devastadora, com pequenas mudanças de expressão e linguagem corporal a transmitir mais do que as palavras poderiam. É uma prova de que se derem liberdade à atriz, esta acaba por ser muito mais interessante do que aparenta.
Além disso, nunca diria que esta é a estreia de Tina Satter na cadeira de direção de uma longa-metragem. A forma como brinca com todo o enredo e a situação é completamente deliciosa. Em vez de depender de espetáculos visuais evidentes, ela abraça a banalidade do cenário—paredes brancas, chão desordenado, uma atmosfera aparentemente tranquila—mas usa isso para destacar as dinâmicas absurdas de poder em jogo. Há uma espécie de horror lento ao ver procedimentos burocráticos apertarem lentamente o cerco em torno de Winner, com cada pergunta “casual” a aproximá-la mais da autoincriminação.
Para finalizar, gostava de dizer que onde Reality realmente se destaca é na forma como aborda a mensagem. Levanta questões sobre poder, transparência e o papel do indivíduo face ao Estado, mas nunca de forma moralizadora. Em vez disso, permite que o absurdo da situação fale por si. Além disso, o facto de o filme ter pouco mais de 80 minutos e ser direto ao assunto, torna-o ainda mais interessante, pois não se poupa e conta a história que quer contar, como quer conta.
Resta concluir que, Reality é um thriller silencioso, mas impactante, que deixará a audiência tanto inquieta quanto pensativa.
Nota: 7/10
Reality chega às salas de cinema a 12 de Setembro
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.