Cinema: Crítica – 100% Lobo
100% Lobo é um filme de animação direcionado a um público mais jovem, mas apesar da sua premissa promissora, luta para atingir o seu verdadeiro potencial.
Quando li sobre o filme a primeira vez, devo dizer que fiquei curioso por conta da premissa, mas, algo deixava-me de pé atrás. Uma produção australiana que foi lançada em vários lugares do mundo entre 2020 e 2021, ter o seu lançamento em 2024 em terras lusas deixava-me um pouco confuso. Porém, depois de alguma investigação, descobri que uma série de animação com o mesmo nome tinha sido exibida algures em 2023 pela SIC K, o que faz completo sentido como razão para o seu lançamento. No entanto, também é estranho pensar que o resto do mundo receberá a sequela, 200% Lobo, ainda este mês.
A história segue Freddy Lupin, um jovem de uma linhagem de lobisomens que está prestes a herdar o legado da família. Contudo, as coisas correm mal quando, em vez de se transformar num poderoso lobo, Freddy transforma-se num… caniche.
O ponto mais forte de 100% Lobo está na mensagem que transmite: abraça a tua individualidade! A transformação de Freddy num caniche, que é considerado um símbolo de vulnerabilidade e ridículo num mundo que valoriza a força e o quão feroz consegues ser, torna-se uma abordagem bastante curiosa a um dos maiores clichês dos filmes para crianças, as histórias de amadurecimento e autodescoberta. No entanto, a forma como o filme incentiva os jovens espectadores a olharem para além das aparências e dos estereótipos, transmitindo uma lição saudável sobre autoaceitação, coragem e o valor da força interior, torna a forma como a narrativa é introduzida e executada bastante mais interessante.
Visualmente, 100% Lobo apresenta um mundo colorido, que certamente irá prender a atenção dos mais pequenos. A animação é bem executada, com sequências de perseguição cheias de energia, designs de personagens detalhados e cenários atmosféricos que reforçam o ambiente mágico da história. As cenas de transformação, em particular, são um ponto alto, já que consegue equilibrar a comédia e a fantasia de forma a que os petizes se divirtam.
Confesso que não encontrei grande informação sobre a dobragem portuguesa do filme, mas suspeito que seja a mesma que a série. Funciona perfeitamente bem e cumpre o necessário para transmitir o filme para os mais novos. No entanto, vou dar destaque ao facto de na versão original existirem nomes como Samara Weaving e Jane Lynch no elenco.
Onde o filme acaba por tropeçar é na sua previsibilidade. A narrativa segue uma estrutura bastante simples, familiar a muitos filmes de animação deste género, onde um protagonista subestimado aprende lições de vida, faz amigos e, eventualmente, supera as suas inseguranças. Embora isso não seja completamente mau, oferece pouco em termos de surpresa ou inovação. A história desenrola-se com um sentido de inevitabilidade que limita o seu impacto emocional.
Além disso, o humor muitas vezes parece um pouco sem inspiração. Embora haja alguns momentos de genuína gargalhada, o guião recorre demasiado a comédia física e piadas repetitivas. Isso pode divertir as crianças mais pequenas, mas deixa o público mais velho, incluindo alguns pais, um pouco sem razão para ver o filme, sem ser entreter a criançada.
O desenvolvimento das personagens também é desigual. O arco de Freddy, embora central à história, não explora tão profundamente os seus conflitos internos como poderia. O elenco de apoio, em particular Batty, a tradicional companheira de aventura que calhou na rifa a Freddy, é fantástico (existem animais muito, mas muito engraçados no filme), mas carece de um histórico ou profundidade suficiente para tornar os seus momentos emocionais mais impactantes.
No final, 100% Lobo é um filme divertido, embora esquecível, para toda a família, que consegue entreter o seu público-alvo, mas carece da profundidade narrativa ou do humor que possa apelar a uma faixa etária mais velha.
Nota: 5/10
100% Lobo chega aos cinemas nacionais a 12 de setembro
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.